quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O que é o Perdão? Quem e como perdoar?

O que é o Perdão - Arthur Sena Rios
Nesta semana me fizeram três perguntas quanto ao meu ponto de vista sobre coisas que muitos opinam, mas poucos falam por experiência própria. Três pessoas, uma com idade mais madura e dois outros jovens curiosos. Meu instinto ogro geralmente age no automático e acabo sugerindo para que peçam a opinião do Google, mas considero injusto não responder a pessoas autenticamente interessadas. Pois é... Tem gente que acha saudável me pedir opinião sobre alguma coisa! Esse é um mundo fanfarrão mesmo! Vou tratar, nesse artigo, de responder a primeira pergunta e deixar as outras duas para outra ocasião. Nem preciso recomendar que se trata de meu ponto de vista, pois, quem dedica alguns instantes para ler o que escrevo sabe que se trata de minhas reflexões e não o espelho da opinião corrente. A pergunta é essa: "O que é o Perdão e como eu conseguirei perdoar alguém que me machucou muito?".

Ora! Não é uma resposta curta... Não por que o perdão seja algo muito complexo para se entender ou de se explicar. Longe disso! É simples demais, porém esbarra em muitos paradigmas e preconceitos que dificultam a aceitação do processo. Parte dessa culpa recai sobre as religiões que nunca entenderam de fato o significado do perdão e acabaram contaminando o entendimento da maioria. O resultado que temos é uma confusão de conceitos e a falsa, repito, falsa ideia de que perdoar é esquecer! Quando analisamos a origem da palavra empregada nas falas daquele que daria origem ao que chamamos de Cristianismo, percebemos o equívoco! Tal como estava originalmente na tradição cristã e nas palavras do próprio Yaohushua (ou o latino, Jesus, se preferirem), Metanoein tem muito mais sentido que o empregado e "pregado" na atualidade. Metanoein é uma referência de que o indivíduo precisa mudar a maneira de pensar sobre algo. É uma transformação muito mais sofisticada do que a perversa palavra arrependimento que as religiões costumam associar. Isso acabou se firmando em nossas mentes por causa de uma cultura estúpida contra o ato de errar.

O erro é um elemento presente em qualquer processo de aprendizado, mas nós aprendemos a condená-lo. Isso nos levou, em seguida, para um estágio onde teríamos de aceitar que alguém fosse o possuidor de uma verdade absoluta sobre as coisas e que, para não errarmos, era preciso apenas que seguíssemos a orientação desses iluminados. Quanto retrocesso poderia ter sido evitado! Nossa humanidade já estaria em estágios muito mais aperfeiçoados se não fosse por essa interferência. Para os menos atentos é melhor fazer uma distinção! Vou explicar que existem erros (escolhas erradas que fazemos e assumimos suas consequências) e há delitos (ações propositais com a finalidade de "ferrar" outros, ou nos garantir vantagens). Erro é um fator de conhecimento do quanto estamos fora da rota que queríamos seguir. Trata-se de um indicador severo que devemos sempre analisar, conhecer e, por consequência, usar como referência no percurso de modo a nos garantir que não cometamos o mesmo erro. Delito é uma afronta, um desvio de caráter que fere não só a uma ordem estabelecida e acordada, como também se baseia na ideia de que "eu mereço mais", em detrimento de outros.

Erramos querendo acertar e quase sempre colocamos a culpa nos outros! Mas, a verdade é que erramos por que não sabemos direito o que queremos! Ignoramos que primeiro precisaríamos nos conhecer, traçar nossos propósitos em acordo com nossas habilidades, entender e corrigir nossas fraquezas e só assim nos desenvolvermos com satisfação. O erro é a maior prova de que não necessitamos de iluminados a nos guiar. É o verdadeiro senhor da sabedoria, nosso mestre rigoroso e justo! Com ele aprendemos quão penoso é o percurso quando se desconhece o itinerário. Somos e sempre fomos nós os engenheiros do itinerário. Aceitemos isso ou permaneçamos acorrentados a ideia de que os eventos é que nos conduzem e que devemos apenas reagir a eles sem influenciar no seu fluxo. Sem compreender a dinâmica do erro não lograremos compreender o perdão por um erro cometido!

Às vezes erramos por que queremos encurtar o percurso e fatalmente o erro nos ensina que não há saltos no progresso! Tudo serve a uma harmonia perfeita e tentar romper essas leis dinâmicas que organizam todo o universo é garantia de dor! A cultura negativa contra o erro não afeta a todos e vemos muitos exemplos de pessoas determinadas (vejam bem! nem positivistas e nem pessimistas, determinadas!), que corrigem completamente as distorções de suas vidas e se transformam em modelos gigantes para nosso aperfeiçoamento. Enquanto a maioria de nós está preso a culpa do erro, outros estão renovando seus alicerces e contribuindo para um mundo melhor. Pelo menos em volta deles mesmos! Perdoar está muito longe de ser associado a esquecimento! Primeiro por que é absurdo simplesmente desintegrar de nossa mente eventos que fizeram com que nos tornássemos o que somos hoje, independente de satisfação pessoal ou não! Segundo por que o discurso é muito mais fácil na retórica de um altar ou púlpito do que na vida prática!

Faça um breve exame aí e tente verificar quantos perdões bem-sucedidos você coleciona! Parabéns se nunca sentiu necessidade de perdoar a ninguém ou a si mesmo, Yoda! Mas, a maioria de nós, mortais, enfrentamos dificuldades nisso! E por que? Não admitimos ou percebemos que temos influência, sim, sobre tudo o que nos acontece. Eventos e fatalidades que nos ocorrem são, sim, resultados de nossas escolhas conscientes ou não! Basta observar quanto lixo acumulamos em nossos pensamentos diários. Ah! Mas um instinto de autopreservação automaticamente contestaria: "eu não escolhi o atropelamento que sofri, a morte do meu pai ou do meu filho!". Resposta: também não fez absolutamente nada para mudar seu campo de realidade. Apenas nos deixamos guiar pelo fluxo da vida esperando que ela cuide de manifestar as coisas que nós almejamos sem entender que essa responsabilidade é nossa! Somos assim!

Mas, e aí?? Como é que eu perdoo e quem pode ser perdoado? Independente dos nossos conceitos, não perdoar alguém só afeta mesmo a nossa realidade! O outro alguém estará ocupado apenas com a realidade que é a dele! Ele tentará construir nova rota e se defender convencendo-se de que a culpa era sua mesmo (e pode crer que era!). Exceção apenas  àqueles que tem o fetiche de terem a aprovação de todos sempre. A maioria dos que consideramos nossos agressores emocionais "estão cagando" para o que nos acontece! Portanto, de que vale acrescentar em nossa bagagem emocional os calos e cicatrizes dos eventos? Vamos fazer uma breve associação... Todas as células de nosso corpo estão no presente e necessitam de energia para produzir seu trabalho que é essencial à nossa vida e ao nosso progresso. Desviamos parte considerável dessa energia para ficar remoendo ou armazenando mágoas e ressentimentos por eventos que pertencem ao domínio do passado que jamais poderá ser acessado novamente. É como caminhar na areia do deserto... Você pode até avançar, mas a velocidade foi comprometida!

Se toda nossa energia estivesse destinada apenas ao foco de nossas realizações e a como devemos dar enfoque nelas, nosso progresso seria muito mais rápido e os resultados sempre muito mais satisfatórios. A quem o perdão beneficia de fato? A única pessoa que pode receber o perdão de verdade: você! Perdoar é, acima de tudo, compreender o que nos levou a tal ou qual situação. É reconhecer que somos artífices do caminho que percorremos aqui. Somos arquitetos de cada episódio pelo qual passamos através de nossas escolhas, conscientes ou não! Como podemos mudar isso? Metanoein! E não espere que seja um processo calmo e de pouca resistência. Vai ser osso! Vai doer muito, vai levar a exaustão extrema e vai fustigar cada pedacinho mental que ainda insistimos em esconder nas profundezas de nossa memória!

E qual é a recompensa por nos colocarmos em um processo de natureza tão dramática, então? A verdadeira liberdade! O encontro real consigo mesmo! A leveza do espírito e a conquista da graça que nos pertence de fato. Escolha a desculpa que quiser para justificar o combate! Na maioria das vezes será ilusão mesmo! Perdoemo-nos simplesmente por que não compensa carregar mais bagagem emocional do que nos compete nessa existência. Temos muito a realizar e progredir. Deixemos o que nos atrasou para trás. De qualquer modo nós permitimos ou agimos de maneira a nos machucarmos mesmo. Deixemos ir! Libertemo-nos dessa fuligem mental que intoxica nossa evolução e confunde nossa percepção. Bom combate a todos!

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